GUERRA DOS BITS - QUARTA GERAÇÃO
A quarta geração de consoles, também chamada de "era dos 16 bits", foi marcada por uma luta acirrada pela preferência dos consumidores americanos. Esse período se estendeu de 1987, com o lançamento do PC engine nos EUA, e foi até 1996, com a descontinuação do Super Nintendo e do Mega Drive nos principais mercados consumidores do mundo.
A guerra de propaganda foi muito marcante nos Estados Unidos nessa época. As informações chegavam até os consumidores majoritariamente por meio de revistas e comerciais de televisão. A internet ainda engatinhava nos anos 90.
Nesse post vou focar em algumas das propagandas que eram veiculadas nas revistas norte americanas. Escolhi apenas uma propaganda de cada console para que o post não fique muito longo.
TURBO GRAFIX 16/ PC ENGINE
Foi o primeiro console comercial equipado com um microprocessador de 16 Bits, fruto de uma parceria entre a NEC Corporation e a Hudson Soft. Nunca foi lançado oficialmente no Brasil e não fez muito sucesso no mercado americano. A guerra de propaganda já começou aqui, pois o aparelho tinha um processador principal de 8bits, somente o chip gráfico era de 16bits. Já começaram aí as inverdades na guerra dos bits.
"Finalmente, uma aplicação real, provando que a matemática que você aprendeu na escola é importante." No corpo do anúncio estão os preços do Super Nintendo e do Genesis, respectivamente 79 e 49 dólares mais caros que o Turbo Grafix 16. No rodapé estão os nomes das lojas onde o aparelho estava disponível para venda.
MEGA DRIVE/GENESIS
O Mega Drive foi concebido para destronar o Nintendo 8bits (NES), que foi lançado no mercado americano em 1985 e obteve um sucesso estrondoso. Apesar do NES ter um biblioteca de jogos muito boa, a capacidade do Mega Drive é muito superior, não tem comparação entre os dois aparelhos. A SEGA sabia que a Nintendo era dominante na América e também sabia que o Genesis era muito superior ao ultrapassado concorrente. Como consequência dessas constatações, a SEGA adotou uma campanha de marketing muito agressiva em relação à principal concorrente e contratou vários famosos para promover seus jogos, como Michael Jackson, Lasorda, Michael Buster Douglas, George Foremam, entre outros. Quanto a estratégia agressiva, eu li em algum lugar que a Sega do Japão não concordou, a princípio, com a visão ousada de Thomas "Tom" Kaliske, CEO da SEGA América, entre 1990 até 1996, no entanto, após o sucesso de vendas, as propagandas depreciativas em relação às concorrentes, principalmente quanto à Nintendo, foram intensificadas. Foram vários ataques diretos e o exemplo que trago abaixo é somente mais um deles.
Em letras garrafais um trocadilho com o nome da concorrente: "aquilo que a Nintendo não faz". O anúncio relata o fato do próprio Michael J. ter criado as músicas do jogo e gravado as vozes (wuuuuuuuuuuuhuuuu! á a única voz que eu lembro e acho que ele estava resfriado); fala ainda sobre a capacidade do Mega de gerar som em estéreo; fala um pouco sobre os hits do MJ presentes no jogo; e traz um breve resumo da história... No último parágrafo da propaganda se lê: " E a partir do momento que você aperta o botão start, você tem certeza de uma coisa. Você não pode fazer isso em um Nintendo". Mais direto que isso é impossível.
SUPER NINTENDO - SUPER FAMILY COMPUTER
Como visto no parágrafo anterior, a SEGA foi muito contundente em seus anúncios e como consequência disso, tomou o primeiro lugar da Nintendo na guerra dos consoles. Como dito anteriormente, o NES, em termos tecnológicos, não tinha comparação com a potência que era o Mega Drive, no entanto, a Nintendo não permaneceu quieta e satisfeita em segundo lugar... Em agosto de 1991, cerca de 2 anos depois do lançamento do Genesis, chegou ao mercado americano o Super Nintendo (SNES). Por ser um console com arquitetura mais nova, o hardware do SNES era mais potente que o do Mega, contudo, teve poucos jogos nos primeiros anos de lançamento e os primeiros títulos sofreram com um tipo de lentidão característico. Acho que foi em decorrência dessa lentidão que a Sega cunhou o termo "blast processing".
Street Fighter 2 da CAPCOM foi um grande hit nos arcades dos 90. Ter uma versão competente deste jogo de luta revolucionário poderia mudar o rumo da guerra dos consoles. A CAPCOM atrasou várias vezes o lançamento da versão de Mega Drive, enquanto isso, a versão do SNES foi lançada e vendeu muito. Como podemos observar no anúncio abaixo, a Nintendo surfou a onda que a Sega iniciou.
"Street Fighter 2. Donos de um Sega... Continuem sonhando. Se você quer jogar Street Fighter 2, tem que ser em um Super Nintendo"
NEO GEO
A Sega era uma gigante nos arcades há décadas. Em 1985 a empresa lançou uma placa chamada System 16. Essa placa era bem parecida com o que veio a ser Mega Drive. O Mega também usava um Zlog Z80 (com cerca de 30% de redução de velocidade em relação ao arcade). Outra característica em comum era o uso de um processador principal Motorola 6800 (no caso do Mega, com corte de velocidade de cerca de 24% em relação ao arcade). Por último, a arquitetura do Mega também usava um chip da Yamaha YM2612, que era uma versão de baixo custo do Yamaha YM2151, usado na System 16.Em resumo, para aqueles que não sabiam, o Mega Drive é, trocando em miúdos, uma versão de baixo custo de uma placa arcade da Sega de 1985. Desse fator decorre a facilidade em converter vários jogos dessa placa para o Mega Drive com bastante fidelidade e rapidez, jogos como Alien Syndrome, Eswat, Shinobi, Golden Axe, Dynamite Dux, etc...
E o que essa história da System 16 tem haver com o NEO GEO? Bom, a SNK também era uma empresa bem sucedida nos arcades e em 1990 ela lançou a placa de fliperama NEO GEO MVS (Multi Video System). A empresa resolveu lançar uma versão em formato de console caseiro para vender para hotéis e eis que surgiu uma demanda pela versão caseira da MVS.
Ao contrário da SEGA, que fez os cortes citados acima, a SNK lançou o console caseiro exatamente com as mesmas especificações do arcade. Por um lado essa escolha implicou em um custo baixíssimo de desenvolvimento. O AES é um MVS com carcaça de console caseiro, nada mais.
O resultado da escolha da SNK foi um console que abarcava o que havia de melhor no mundo em 1990, mas o um preço final era exorbitante. Realmente um console de luxo e para poucos.
Com objetivo de promover seu console "bombado", e para o nosso entretenimento, a SNK também entrou na onda das propagandas apelativas.
"Se você está jogando SEGA, NEC, ou Nintendo, você é uma salsichinha! [Acho que é sinônimo de fracote] Se você está jogando no incrível e super poderoso sistema NEO-GEO você é um verdadeiro Hot Dog! O anúncio pergunta qual seria o motivo de se enganar com sistemas mancos e fracos, uma vez que o NEO GEO sobrepuja todos esses consoles com "grandes nomes". O anúncio segue dizendo que o Neo Geo é caro como uma Ferrari, mas uma Ferrari não pode ser comparada a um Yugo [um dos piores carros de história]. Da mesma forma, não dá para comparar um corte de carne de primeira com um hambúrguer de esquilo. O argumento final diz que com o Neo Geo você leva mais do que aquilo pelo qual pagou.
Um zoom no anúncio e vemos uma comparação entre os sistemas de quarta geração (com exceção do SNES, que não havia sido lançado ainda).
O Brasil ficou longe dessa disputa feroz por mercado. Naquela época não éramos interessantes para o mercado de vídeo games mundial assim como nós somos hoje.
O NEO GEO CD Chegou a ser lançado aqui no Brasil e lembro de ver anúncios em revistas de games nacionais. O SNES teve representação nacional com a Gradiente. O PC Engine não foi lançado por aqui e eu só ouvi falar que existia tal aparelho depois de anos.
A Sega já foi outra história... Sega e Tec Toy firmaram uma parceria e fizeram a festa no Brasil onde reinaram soberanas. Como aqui a Tec Toy era número 1 nas vendas, a estratégia de marketing deles foi muito diferente da que foi empregada nos EUA e nós nunca vimos os ataques diretos ou ouvimos falar no tal de blast processing.
Eu acho essa história toda bem divertida. Hoje em dia não é comum vermos empresas partindo para cima de outras com a faca entre os dentes da forma que era. Essas práticas ficaram lá nos anos 90... Encerro o post por aqui e espero que vocês tenham aproveitado a leitura. Se escrevam no Blog para receberem as novidades e para me seguirem no instagram, cliquem aqui.
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